Impressões sobre a Sétima Mostra Guarulhense de Cinema – parte 3.
Por Janaina Reis
Chegamos na última grande noite do cinema guarulhense! Com
uma trilha de muita experimentação abriram-se os trabalhos com um
questionamento sobre o tempo, “O tempo que te cabe", filosófico e
provocante filme. O tempo discorre em
imagens à nossa frente, numa edição que brinca com a velocidade do tempo, o que
provoca nosso ritmo interno, por isso um filme filosófico, porque inquieta e
angustia.
Ainda sobre provocações, uma foi especial para mim, “Isto
não é o alfabeto", eu costumo sempre dizer que não sei desenhar, das artes
o desenho é realmente uma que me escapou. No entanto, como pedagoga, tenho por
ofício ensinar a ler e escrever as nossas letras. E esse filme veio bagunçar
algumas coisas me dizendo o óbvio ululante: letras são desenhos. Mas, Nelson
Rodrigues já nos disse, só os profetas enxergam o óbvio. Ainda bem que existem
essas pequenas doses de lucidez por aí.
A teatralidade esteve muito presente nesta mostra, e nesta
noite seus representantes foram “Fragmentos de um lugar", “Entropia
Mental" e “Andarilhantes". Esses três carregam em si uma poética do
ator, ele é o ponto de partida para tudo. Corpos expressivos, insubmissos que
dialogam com os espaços e trazem musicalidade, ritmo e imagens marcantes.
Os filmes mais documentais “Milton Santos” e “Rabiscos
Surrados – De Pindorama ao Brasil”, chamam atenção por bagunçar a lógica do
documentário. Ambos propõe novos jeitos de narrar fatos, um com recurso da
animação, outro com o recurso da relação palavra e imagem. Já em “Como estão as
coisas aí?” temos uma linguagem mais tradicional de documentário, um tema de
extrema relevância e que é pouco discutido em nossa sociedade que é o debate
sobre o encarceramento.
Não vou finalizar esse texto. Vou dar um “Ponto e
vírgula” porque eu quero uma ponte para a próxima mostra. Eu quero uma ponte
para você leitor. O último filme da noite é um lembrete sobre quem somos, nós
somos nossas memórias mais profundas. E tudo funcionou nesse filme, destaco o
roteiro que traz um tema pouco explorado na nossa cinematografia que é o
protagonismo da terceira idade, seus dramas, suas histórias e com quanta
delicadeza o filme aborda a relação entre as diferentes gerações. No primeiro
texto dessa série eu digo no primeiro parágrafo que cinema é sobre afeto, e sim
meus caros, essa é a ponte sobre a qual caminhamos.