Por Renato Queiroz
Esta edição do Zine Gueto-Metragem coincide com a exibição de
Pré-estreia da Série “Olhar Clandestino”, produzida de forma independente pela
Companhia Bueiro Aberto. Uma verdadeira escola para esse coletivo que vem
produzindo cada dia mais.
Cinco Histórias diferentes, “Amor Bandido”, Estrela
Invisível, Solidão SP, “Crise” e “No cinema de Bueiro”, mas com muita coisa em
comum. O ambiente urbano, os personagens do submundo, a repetição de elementos
narrativos – como o jornalista sensacionalista Agamenon Ribeiro. Tudo isso faz
parte do universo criado pela Bueiro Aberto. No entanto, o grande propulsor
dessa série não é a narrativa e nem mesmo a estética, mas a vontade de aprender
a fazer filmes.
Costumamos, em nossas conversas, dizer que não somos o Cinema
Marginal, mas Marginais do Cinema. Isso quer dizer que não somos quem
normalmente está no controle e na produção mainstream da indústria, nem mesmo
aqueles que estão na indústria de forma secundária. Somos trabalhadores, filhos
de trabalhadores, gente comum que, talvez pela própria sensibilidade à vivência
do cotidiano da massa, aparentemente sem rosto, extraímos, garimpamos mesmo, as
alegrias, as tristezas, a beleza da vida das pessoas, e queremos nos ver nas
telas também.
Quando nos reunimos, cheios de sonhos e ideias, para discutir
a criação dessa série, já éramos produtores alternativos, apaixonados pela
linguagem cinematográfica, e queríamos fazer com que essas fotografias
clandestinas, esses escritos surrados se tornassem imagens vivas, filmes. Assim
iniciamos a nossa trajetória, que depois de quase um ano, vimos agora se
concretizar.
Nenhum membro do Coletivo tem formação acadêmica em Cinema ou
audiovisual, todos são curiosos, interessados, que com uma boa dose de ousadia
e cara de pau, pegaram uma câmera e começaram a produzir. Aos poucos vimos que
nossas concepções coincidiam em algumas coisas, divergiam às vezes – num
processo enriquecedor – e, na maioria das vezes, se complementam de forma
criativa. De maneira que, hoje, já começamos a debater a adoção de certo padrão
estético, exploramos os campos da ficção, do documentário, e diversos elementos
da linguagem do cinema.
Olhar Clandestino é uma série sobre o submundo das metrópoles
urbana. Apresenta dramas e esperanças, sempre dentro dessa perspectiva da
visão, do personagem que olha para o mundo e para o espectador, ao passo que
são observados também pelo público. É esse processo de troca, de aprendizagem,
de aprender a viver e a olhar o mundo sendo quem é.
O quinto filme mostra exatamente essa face na perspectiva do
observador, do drama e da esperança aplicada justamente à própria equipe, à
galera que mergulhou de cabeça nesse curso intensivo que se apresenta hoje como
um produto audiovisual construído com muito esforço por um Coletivo de gente
comum que fala sobre gente comum, extraindo – de forma extraordinária – aquilo
que é notável na vida dessas pessoas.
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