Por Daniel Neves
De que cinema estamos falando
Consigo
notar pela janela que ainda é noite, os postes ligados amarelam as ruas, alguns
deles estão sempre apagados, quebrados, largados, são a escuridão das esquinas
e escadões.
Não
tem como voltar a dormir, o tempo passa e aos poucos o sol da manhã se espalha
pelo bairro, hoje é o dia, não pode passar de hoje, vamos gravar um filme
enquanto outro se passa na minha cabeça.
Vai ser na casa do
nosso mano André, ele emprestou o quartinho do fundo pra gente usar de cenário.
Até que tem ônibus daqui pra lá, mas de domingo nem dá pra contar, os caras só
disponibiliza busão de dia de semana, quando temos que trabalhar.
Vou na caminhada. Passo
pelas ruas da quebrada e me lembro de quando escrevi o roteiro, uma história
que nascia naquelas esquinas, no sofrimento de tantos e tantas que passaram o
veneno do mundo do crime.
Cheguei, já enxergo
alguém, é o Marcão que veio somar na câmera, ele conversa com o André que é o
diretor de arte. Estou ansioso, mas cada vez mais tranquilo, parece que vai dar
tudo certo. Aos poucos, vai colando toda galera, a Janaina que preparou os
atores, o produtor Caio, o fotógrafo Renato, a Bárbara da produção, o Thomas do
áudio, o Danilo que vai tá também na câmera, o Galdino que veio somar e, claro,
a atriz Beth e o ator Lucas, que vão fazer o papel de Valéria e Wellington. O
filme se chama Amor Bandido e fala de um amor que não pode acontecer devido à
vida loca.
(Preparação de elenco)
Organizamos o rateio do
rango, o filme é feito sem nenhum centavo além daqueles tirados do próprio
bolso de quem acredita na ideia e veio compor a equipe. Contamos também com a
ajuda de uma infinidade de pessoas amigas.
Debatemos e realizamos
cada parte do processo, figurino, cenário, luz, enquadramento, som, atuação,
são muitas dúvidas, ninguém tem formação em cinema, aprendemos ali. A cada
Plano, a cada Tomada, a troca permanece. Dura o dia todo.
Anoiteceu, aquelas luzes amarelas dos postes são o palco onde gravamos a última cena, improvisamos o farol de um carro como refletor!
Enfim, conseguimos!!! Conseguimos?
Numa manhã de sexta -
feira, eu e Marcão discutimos se cortamos ou não uma parte da cena final. Já
estamos editando desde as 8 da noite do dia anterior. Mais uma jornada, já se
foram meses depois que gravamos o filme, noites em claro debatendo o sentido de
cada corte. Parece que não vai acabar nunca, sempre tem um detalhe, chegamos a
um acordo, por hoje já deu, ainda tem de gravar a trilha sonora, nem marquei a
data com os músicos, tem que dar um toque no nosso camarada Alex, que grava num
estúdio que ele mesmo criou.
Já marcamos a estreia,
precisamos terminar esse filme, sim, os últimos ajustes, acabou!!! Ufa, já
posso visualizar o sol que nasce, a cidade começa a se movimentar. Será que o
filme acabou mesmo? Não, ainda falta um detalhe, aquela cor na cena 2,
equalizar o som dos diálogos. Talvez fizesse isso ou aquilo, mas o filme tá
pronto.
Finalmente, aleluia!!!
Agora é hora de... distribuir e exibir. Puts, ferrou, agora é hora de distribuir.
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