POR JANAINA REIS
A Mostra Guarulhense de Cinema é um importante panorama do cinema independente em Guarulhos, esse ano ela chegou a edição de número 6, por seu caráter anual podemos dizer que são seis anos de mostra! Manter uma produção desse porte de forma independente é uma tarefa árdua que as pessoas que fazem parte desse evento tem cumprido com êxito, a cada ano temos novas produções, novos formatos e muitas reflexões.
O número de produções saltou aos olhos nesta edição, 39
filmes entre curtas de diversos gêneros e um longa metragem de ficção. A
pandemia que parecia acabar com o sonho
do cinema, aqueceu o cinema guarulhense dando-lhe novas caras e um novo formato
para o seu principal evento, que além de 39 filmes, trouxe mesas de debate
sobre cinema e lançamento da sexta edição do Zine Gueto Metragem. É nós somos difíceis
de derrubar! Mas, uma outra coisa saltou
aos olhos nessa mostra, algo que é muito discutido por aí: a participação das
mulheres no cinema. Eita! Senta que lá vem história...
As mulheres são historicamente lembradas no cinema como
atrizes, como sex symbol, como aquela atriz casada com aquele diretor, como a
donzela do filme que morre pra dar motivação pro herói. Dificilmente são
lembradas como cineastas. Algumas
pesquisas apontam porém, que o cinema foi uma invenção feminina. É... aquela
história do Meliés e do Viagem à Lua já foi contestada, Alice Guy Blaché já tinha feito um filme de
ficção seis anos antes dele chamado A
Fada com Repolhos, La Fée Aux Choux.
Acontece que o cinema virou atividade industrial então as
mulheres que antes dominavam a produção cinematográfica foram depostas pelos
homens, é o machismo varrendo mulheres brilhantes para debaixo do tapete e transformando
as que sobraram em produtos vendáveis.
No Brasil, mesmo o cinema novo com todo seu caráter
revolucionário, tem apenas uma mulher com uma produção considerada
significativa, a cineasta Helena Solberg.
Nos últimos anos Hollywood escandalizou o mundo com
inúmeras histórias de assédio sexual sofrida por profissionais mulheres. No
Brasil não foi diferente, e os relatos foram desde grandes produções
cinematográficas, televisivas até festivais.
Contudo, apesar de tantos debates em torno do assunto, as
coisas não mudaram muito, continuam assediando as mulheres e a produção cinematográfica assinada por mulheres
ainda é tímida, o que não tem timidez é o machismo e o preconceito.
Mas aqui, na segunda cidade mais populosa do estado de
São Paulo, parece que as coisas são diferentes. Esse ano dos 39 filmes
apresentados na VI Mostra Guarulhense de Cinema, 16+1 são dirigidos ou
orientados por mulheres. São elas:
Angel Black (Nós das Ruas), Janaina Reis ( Nós das Ruas,
Minha Vida em Quarentena, A Roda das Histórias, Cartas de um Poeta), Letícia
Alves (Ruptura), May Alves (Tô Indo, Novo Normal), Ingrid Novak e Fernanda
Campos (Dias de Glória), Fabiana Barbosa (Escravidão 2.0), BrumaBruna (_
Vermelho), Juliana Seabra (6 almas), Pâmela Regina (A Caixa Misteriosa), Reiko
Otake (Nuvem Baixa e Impróprios), Pamy Rodrigues (Pelas Tuas Mãos), Isa Molica
(Elos, as Teias), Fernanda Carvalho (Eu).
Além disso, as produções contam com mulheres na equipe e
algumas histórias tem mulheres como protagonistas. No zine Gueto-Metragem
tivemos três mulheres colunistas em uma equipe de 6 pessoas nessa edição eu Janaina Reis, Pâmela Regina e
Marina Soler. Na própria organização da
mostra a participação feminina aumentou, nessa edição somaram as manas Pâmela
Regina, Lucimar Araújo, Cinthia Nicácio Manocchi Murata e Fernanda Campos, em
uma equipe com 9 pessoas. E até no jornalismo quem defendeu a divulgação da
mostra nos jornais foram Carla Maio e Thalita Monte Santo.
O cinema guarulhense não é “eu" é “nós” disse isso
na live de abertura da mostra, o cinema independente em Guarulhos é coletivo,
ele se move pela força do todo e
qualquer pessoa é bem vinda. Lendo o artigo do camarada Renato Queiroz aqui no blog vi que ele cunhou
um termo interessante “cinema nosso", gostei e vou usar.
O cinema nosso é então um cinema que naturalmente rompe
paradigmas, estamos na contra mão porque a mão desse mundo como está não nos interessa, nem representa, logo, para
nós é natural ver mulheres, homens, enfim, pessoas onde elas quiserem, contando suas
próprias histórias. E que venham mais!
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