quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Impressões sobre a Sétima Mostra Guarulhense de Cinema – parte 3. Por Janaina Reis.

 

Impressões sobre a Sétima Mostra Guarulhense de Cinema – parte 3.

 

Por Janaina Reis

 


Chegamos na última grande noite do cinema guarulhense! Com uma trilha de muita experimentação abriram-se os trabalhos com um questionamento sobre o tempo, “O tempo que te cabe", filosófico e provocante  filme. O tempo discorre em imagens à nossa frente, numa edição que brinca com a velocidade do tempo, o que provoca nosso ritmo interno, por isso um filme filosófico, porque inquieta e angustia.

Ainda sobre provocações, uma foi especial para mim, “Isto não é o alfabeto", eu costumo sempre dizer que não sei desenhar, das artes o desenho é realmente uma que me escapou. No entanto, como pedagoga, tenho por ofício ensinar a ler e escrever as nossas letras. E esse filme veio bagunçar algumas coisas me dizendo o óbvio ululante: letras são desenhos. Mas, Nelson Rodrigues já nos disse, só os profetas enxergam o óbvio. Ainda bem que existem essas pequenas doses de lucidez por aí.

A teatralidade esteve muito presente nesta mostra, e nesta noite seus representantes foram “Fragmentos de um lugar", “Entropia Mental" e “Andarilhantes". Esses três carregam em si uma poética do ator, ele é o ponto de partida para tudo. Corpos expressivos, insubmissos que dialogam com os espaços e trazem musicalidade, ritmo e imagens marcantes.



Os filmes mais documentais “Milton Santos” e “Rabiscos Surrados – De Pindorama ao Brasil”, chamam atenção por bagunçar a lógica do documentário. Ambos propõe novos jeitos de narrar fatos, um com recurso da animação, outro com o recurso da relação palavra e imagem. Já em “Como estão as coisas aí?” temos uma linguagem mais tradicional de documentário, um tema de extrema relevância e que é pouco discutido em nossa sociedade que é o debate sobre o encarceramento.

Não vou finalizar esse texto. Vou dar um “Ponto e vírgula” porque eu quero uma ponte para a próxima mostra. Eu quero uma ponte para você leitor. O último filme da noite é um lembrete sobre quem somos, nós somos nossas memórias mais profundas. E tudo funcionou nesse filme, destaco o roteiro que traz um tema pouco explorado na nossa cinematografia que é o protagonismo da terceira idade, seus dramas, suas histórias e com quanta delicadeza o filme aborda a relação entre as diferentes gerações. No primeiro texto dessa série eu digo no primeiro parágrafo que cinema é sobre afeto, e sim meus caros, essa é a ponte sobre a qual caminhamos.