sábado, 13 de maio de 2017

O Aprendizado da Série Olhar Clandestino

Texto feito para o editorial da Segunda edição do Zine Gueto - Metragem

Por Renato Queiroz

O Aprender Clandestino

Esta edição do Zine Gueto-Metragem coincide com a exibição de Pré-estreia da Série “Olhar Clandestino”, produzida de forma independente pela Companhia Bueiro Aberto. Uma verdadeira escola para esse coletivo que vem produzindo cada dia mais.
Cinco Histórias diferentes, “Amor Bandido”, Estrela Invisível, Solidão SP, “Crise” e “No cinema de Bueiro”, mas com muita coisa em comum. O ambiente urbano, os personagens do submundo, a repetição de elementos narrativos – como o jornalista sensacionalista Agamenon Ribeiro. Tudo isso faz parte do universo criado pela Bueiro Aberto. No entanto, o grande propulsor dessa série não é a narrativa e nem mesmo a estética, mas a vontade de aprender a fazer filmes.


Costumamos, em nossas conversas, dizer que não somos o Cinema Marginal, mas Marginais do Cinema. Isso quer dizer que não somos quem normalmente está no controle e na produção mainstream da indústria, nem mesmo aqueles que estão na indústria de forma secundária. Somos trabalhadores, filhos de trabalhadores, gente comum que, talvez pela própria sensibilidade à vivência do cotidiano da massa, aparentemente sem rosto, extraímos, garimpamos mesmo, as alegrias, as tristezas, a beleza da vida das pessoas, e queremos nos ver nas telas também.
Quando nos reunimos, cheios de sonhos e ideias, para discutir a criação dessa série, já éramos produtores alternativos, apaixonados pela linguagem cinematográfica, e queríamos fazer com que essas fotografias clandestinas, esses escritos surrados se tornassem imagens vivas, filmes. Assim iniciamos a nossa trajetória, que depois de quase um ano, vimos agora se concretizar.
Nenhum membro do Coletivo tem formação acadêmica em Cinema ou audiovisual, todos são curiosos, interessados, que com uma boa dose de ousadia e cara de pau, pegaram uma câmera e começaram a produzir. Aos poucos vimos que nossas concepções coincidiam em algumas coisas, divergiam às vezes – num processo enriquecedor – e, na maioria das vezes, se complementam de forma criativa. De maneira que, hoje, já começamos a debater a adoção de certo padrão estético, exploramos os campos da ficção, do documentário, e diversos elementos da linguagem do cinema.
Olhar Clandestino é uma série sobre o submundo das metrópoles urbana. Apresenta dramas e esperanças, sempre dentro dessa perspectiva da visão, do personagem que olha para o mundo e para o espectador, ao passo que são observados também pelo público. É esse processo de troca, de aprendizagem, de aprender a viver e a olhar o mundo sendo quem é.

O quinto filme mostra exatamente essa face na perspectiva do observador, do drama e da esperança aplicada justamente à própria equipe, à galera que mergulhou de cabeça nesse curso intensivo que se apresenta hoje como um produto audiovisual construído com muito esforço por um Coletivo de gente comum que fala sobre gente comum, extraindo – de forma extraordinária – aquilo que é notável na vida dessas pessoas.

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