Entrevista
por: Renato Queiroz
Fotografia por: Elizabeth Massarelli
GUETO – METRAGEM: Há quanto tempo você
está na fotografia?
MARCOS: Eu fotografo desde 1991.
GUETO – METRAGEM: Como você entrou nessa
área?
MARCOS: Foi uma história engraçada. Eu
dava aulas de Hapkido, eu treinava, não tinha nada a ver com isso. Daí um amigo
meu começou a fazer um curso na Focus, escola de fotografia em São Paulo, e eu
meio que fiz o curso de tabela com ele porque o que ele ia aprendendo, ia me
passando e eu aprendia também. Aí um outro amigo meu me disse que a FIG da Vila
Rosália, faculdade de Guarulhos,
precisava de um fotógrafo e eu comecei a trabalhar com isso por lá, além
de iniciar o curso de artes. Eu fazia peças publicitárias, jornais, revistas,
folders.
GUETO – METRAGEM: E você já se
interessava por cinema?
MARCOS: Já me interessava por cinema
sim, mas como um consumidor mesmo, porém eu já conversava com muita gente e
dizia que tinha vontade de fazer curta – metragem. Eu emperrava naquela questão
de equipe, né? De um roteirista, uma direção de arte, fotografia, uma galera
que quisesse somar. Quando eu encontrei o Coletivo (Companhia Bueiro Aberto)
uni o útil ao agradável.
GUETO - METRAGEM: Você já tinha
experimentado fazer algum curta antes?
MARCOS: Curta, não. Eu trabalhei com
eventos sociais, como casamentos. Nesse tipo de trabalho você acaba
desenvolvendo alguma coisa porque tem que criar uma história para que a pessoa
tenha interesse em ver o vídeo do casamento dela. Basicamente, a gente fazia
cinema sem saber. A gente filmava o noivo e a noiva no carro chegando na festa.
Daí já usávamos os planos – detalhe, como o pé do noivo saindo do carro, a mão
abrindo a porta para a noiva, às vezes pedia para sair do carro de novo para
fazer um plano aberto. Na verdade, eu decupava a cena e fazia com que aquela
imagem dele saindo do carro, pegando a noiva e entrando no salão, tivesse
várias tomadas, vários ângulos.
GUETO – METRAGEM: Já fazia direção de atores
praticamente, né?
MARCOS: Sim, praticamente era isso.
Existe um grande preconceito com fotógrafos de evento social, dizem que é uma
área muito prostituída, mas eu penso que fotógrafo é o cara que consegue viver
disso, de fotografar, e tem, sim, elementos artísticos nesse trabalho.
GUETO – METRAGEM: Quais são as suas
referências no cinema?
MARCOS: Eu gosto muito do Tarantino.
Gosto também do Roberto Benigni, que dirigiu “A Vida é Bela”, ele tem um filme
muito engraçado que chama “O Monstro”. Hitchcock é uma referência de
profissionalismo, apesar de ele negar a câmera na mão e a gente usar mais
câmera na mão, porque é outra pegada, é a experimentação, não quer dizer que
tenha certo ou errado no cinema, eu acho que tudo depende da proposta, né?
Talvez se ele tivesse uma câmera DSLR na mão, com precisão exata, ele não
ligaria pra isso.
GUETO – METRAGEM: E como foi que você
começou a trabalhar com o cinema?
MARCOS: Eu fui convidado pra fazer
fotografia de still num curta em que a minha namorada ia interpretar um papel.
Chegando lá conheci a galera e o rapaz que ia filmar, o Dan, que tinha
aprendido comigo fazendo eventos de casamento, e ele passou a bola pra mim,
emprestou a câmera e disse que eu que iria filmar. Depois desse curta, os caras
me passaram qual era a ideia do projeto, fazer cinco curtas em pouco espaço de
tempo, e eu abracei de coração, sem nem pensar em remuneração, porque sabia que
é um trampo independente e como eu tava descobrindo essa questão do cinema, me
entreguei de corpo e alma, do primeiro até o último.
GUETO – METRAGEM: Você também esteve nas
montagens dos filmes, utilizou muito do que já sabe e ensinou muita coisa pro
coletivo. Fala um pouco disso.
MARCOS: Ah, sim. Então, o trabalho com
casamentos me deu a oportunidade de filmar com uma, duas, às vezes até três
câmeras. Além disso, trabalhei também com vídeo institucional pra algumas
empresas e isso me deu uma base legal pra entender o programa de edição. Mas o
que ficou legal no “Olhar Clandestino” foi que a gente fez uma montagem
coletiva, não existia O Montador, O Editor, e sim um processo de discussão, a
gente não edita sozinho, geralmente tem duas ou três pessoas. Outra coisa
importante é o respeito, é admitir. Tem vezes que você faz o corte de uma cena
até o fim e pra você tá lindo, aí alguém diz que tá um pouquinho longo, aí é
você olhar, reavaliar, porque quando tá muito dentro do trabalho, tem que
chegar no outro cara, pedir pra ele pilotar a nave um pouco. Pensar fora da
caixa.
GUETO – METRAGEM: Por que você acha que
a montagem é a etapa mais difícil de um filme?
MARCOS: Porque ali não tem mais pra onde
correr. Não dá pra fazer mais planos, criar mais personagens. É resolver com o
que tem. Como foi o atropelamento da Miracélia no “Estrela Invisível”, né?
Depois, olhando na edição, você pensa que podia ter feito um planinho a mais
que talvez melhorasse alguma coisa, mas na edição não tem mais, né? No Set você ainda tem a oportunidade de lembrar
de um plano ou criar alguma coisa, como foi no “Crise” em que a cena adicional
com a Cecília acabou se tornando uma das mais bonitas.
GUETO – METRAGEM: Produzir hoje, com
acesso às novas tecnologias, é possível. Agora, a questão é: Como atingir o
público, como fazer com que nossos filmes sejam vistos?
MARCOS: Eu acho que o grande canal é a
Internet. Tem muitos atores, coletivos que iniciaram na Internet e hoje
trabalham em emissoras ou tem seu próprio canal bombando com milhões de
inscritos. E há a divulgação com amigos mesmo, pedir pra compartilhar, mostrar
pra todo mundo, mas é bom fazer exibições também, chegar onde tiver
oportunidade de o filme rodar.
GUETO – METRAGEM: A “Série Olhar
Clandestino” trabalha com a ideia do anonimato, de extrair algo emocionante de
uma pessoa desconhecida. O que você pensa dessa proposta?
MARCOS: Cara, acho uma puta ideia! Eu
penso, às vezes a gente faz o mesmo caminho de casa pro trabalho por anos e um
dia se dá conta de que tem um prédio em algum lugar e você não sabe quando
construíram esse prédio, nunca notou. Passava todo dia ali, olhava, mas não
enxergava. A ideia do “Olhar Clandestino” é que a gente tá tão acostumado a
passar e ver essas situações, que a gente não repara. O Olhar Clandestino vem
pra escancarar e dizer: “Olha, isso é o que você não vê.”
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