terça-feira, 6 de junho de 2017

Entrevista com o fotógrafo Marcos Campos

Entrevista com um dos principais responsáveis pela fotografia da Série Olhar Clandestino, publicado na segunda edição do Zine Gueto - Metragem




Entrevista por: Renato Queiroz
Fotografia por: Elizabeth Massarelli

GUETO – METRAGEM: Há quanto tempo você está na fotografia?

MARCOS: Eu fotografo desde 1991.

GUETO – METRAGEM: Como você entrou nessa área?

MARCOS: Foi uma história engraçada. Eu dava aulas de Hapkido, eu treinava, não tinha nada a ver com isso. Daí um amigo meu começou a fazer um curso na Focus, escola de fotografia em São Paulo, e eu meio que fiz o curso de tabela com ele porque o que ele ia aprendendo, ia me passando e eu aprendia também. Aí um outro amigo meu me disse que a FIG da Vila Rosália, faculdade de Guarulhos,  precisava de um fotógrafo e eu comecei a trabalhar com isso por lá, além de iniciar o curso de artes. Eu fazia peças publicitárias, jornais, revistas, folders.

GUETO – METRAGEM: E você já se interessava por cinema?

MARCOS: Já me interessava por cinema sim, mas como um consumidor mesmo, porém eu já conversava com muita gente e dizia que tinha vontade de fazer curta – metragem. Eu emperrava naquela questão de equipe, né? De um roteirista, uma direção de arte, fotografia, uma galera que quisesse somar. Quando eu encontrei o Coletivo (Companhia Bueiro Aberto) uni o útil ao agradável.

GUETO - METRAGEM: Você já tinha experimentado fazer algum curta antes?

MARCOS: Curta, não. Eu trabalhei com eventos sociais, como casamentos. Nesse tipo de trabalho você acaba desenvolvendo alguma coisa porque tem que criar uma história para que a pessoa tenha interesse em ver o vídeo do casamento dela. Basicamente, a gente fazia cinema sem saber. A gente filmava o noivo e a noiva no carro chegando na festa. Daí já usávamos os planos – detalhe, como o pé do noivo saindo do carro, a mão abrindo a porta para a noiva, às vezes pedia para sair do carro de novo para fazer um plano aberto. Na verdade, eu decupava a cena e fazia com que aquela imagem dele saindo do carro, pegando a noiva e entrando no salão, tivesse várias tomadas, vários ângulos.

 GUETO – METRAGEM: Já fazia direção de atores praticamente, né?

MARCOS: Sim, praticamente era isso. Existe um grande preconceito com fotógrafos de evento social, dizem que é uma área muito prostituída, mas eu penso que fotógrafo é o cara que consegue viver disso, de fotografar, e tem, sim, elementos artísticos nesse trabalho.

GUETO – METRAGEM: Quais são as suas referências no cinema?

MARCOS: Eu gosto muito do Tarantino. Gosto também do Roberto Benigni, que dirigiu “A Vida é Bela”, ele tem um filme muito engraçado que chama “O Monstro”. Hitchcock é uma referência de profissionalismo, apesar de ele negar a câmera na mão e a gente usar mais câmera na mão, porque é outra pegada, é a experimentação, não quer dizer que tenha certo ou errado no cinema, eu acho que tudo depende da proposta, né? Talvez se ele tivesse uma câmera DSLR na mão, com precisão exata, ele não ligaria pra isso.

GUETO – METRAGEM: E como foi que você começou a trabalhar com o cinema? 

MARCOS: Eu fui convidado pra fazer fotografia de still num curta em que a minha namorada ia interpretar um papel. Chegando lá conheci a galera e o rapaz que ia filmar, o Dan, que tinha aprendido comigo fazendo eventos de casamento, e ele passou a bola pra mim, emprestou a câmera e disse que eu que iria filmar. Depois desse curta, os caras me passaram qual era a ideia do projeto, fazer cinco curtas em pouco espaço de tempo, e eu abracei de coração, sem nem pensar em remuneração, porque sabia que é um trampo independente e como eu tava descobrindo essa questão do cinema, me entreguei de corpo e alma, do primeiro até o último.

GUETO – METRAGEM: Você também esteve nas montagens dos filmes, utilizou muito do que já sabe e ensinou muita coisa pro coletivo. Fala um pouco disso.


MARCOS: Ah, sim. Então, o trabalho com casamentos me deu a oportunidade de filmar com uma, duas, às vezes até três câmeras. Além disso, trabalhei também com vídeo institucional pra algumas empresas e isso me deu uma base legal pra entender o programa de edição. Mas o que ficou legal no “Olhar Clandestino” foi que a gente fez uma montagem coletiva, não existia O Montador, O Editor, e sim um processo de discussão, a gente não edita sozinho, geralmente tem duas ou três pessoas. Outra coisa importante é o respeito, é admitir. Tem vezes que você faz o corte de uma cena até o fim e pra você tá lindo, aí alguém diz que tá um pouquinho longo, aí é você olhar, reavaliar, porque quando tá muito dentro do trabalho, tem que chegar no outro cara, pedir pra ele pilotar a nave um pouco. Pensar fora da caixa.

GUETO – METRAGEM: Por que você acha que a montagem é a etapa mais difícil de um filme?

MARCOS: Porque ali não tem mais pra onde correr. Não dá pra fazer mais planos, criar mais personagens. É resolver com o que tem. Como foi o atropelamento da Miracélia no “Estrela Invisível”, né? Depois, olhando na edição, você pensa que podia ter feito um planinho a mais que talvez melhorasse alguma coisa, mas na edição não tem mais, né?  No Set você ainda tem a oportunidade de lembrar de um plano ou criar alguma coisa, como foi no “Crise” em que a cena adicional com a Cecília acabou se tornando uma das mais bonitas.

GUETO – METRAGEM: Produzir hoje, com acesso às novas tecnologias, é possível. Agora, a questão é: Como atingir o público, como fazer com que nossos filmes sejam vistos?

MARCOS: Eu acho que o grande canal é a Internet. Tem muitos atores, coletivos que iniciaram na Internet e hoje trabalham em emissoras ou tem seu próprio canal bombando com milhões de inscritos. E há a divulgação com amigos mesmo, pedir pra compartilhar, mostrar pra todo mundo, mas é bom fazer exibições também, chegar onde tiver oportunidade de o filme rodar.


GUETO – METRAGEM: A “Série Olhar Clandestino” trabalha com a ideia do anonimato, de extrair algo emocionante de uma pessoa desconhecida. O que você pensa dessa proposta?


MARCOS: Cara, acho uma puta ideia! Eu penso, às vezes a gente faz o mesmo caminho de casa pro trabalho por anos e um dia se dá conta de que tem um prédio em algum lugar e você não sabe quando construíram esse prédio, nunca notou. Passava todo dia ali, olhava, mas não enxergava. A ideia do “Olhar Clandestino” é que a gente tá tão acostumado a passar e ver essas situações, que a gente não repara. O Olhar Clandestino vem pra escancarar e dizer: “Olha, isso é o que você não vê.”

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